Despedida da atual geração de carros, no domingo, encerra capítulo importante do esporte a motor brasileiro
A Stock Car Pro Series se encaminha para a transição entre o fim de uma era e tempos de revolução. A geração de carros Sedan, que começou a vigorar desde o início da história da categoria, em 1979, vai sair de cena com o desfecho da temporada 2024, no próximo domingo, 15 de dezembro, quando será coroado o futuro dono do Troféu dos Campeões da principal categoria do automobilismo brasileiro, em Interlagos. A partir de 2025, a competição verá no seu grid os modelos SUVs, em alinhamento com a tendência dos últimos anos na indústria e no mercado automotivo em todo o mundo.
Neste momento, antes do aguardado divisor de águas, a Stock Car já teve 11 modelos diferentes — considerando variações, como no caso do Opala e do Vectra — e cinco montadoras distintas: Chevrolet, Peugeot, Mitsubishi, Volkswagen e Toyota.
Chevrolet e Toyota seguirão medindo forças em 2025 e vão competir com os modelos Tracker e Corolla Cross, respectivamente. As duas montadoras terão a companhia da Mitsubishi, que regressa à Pro Series na era SUV com o Eclipse Cross em momento aguardado com muita ansiedade em razão da alta tecnologia e conectividade que vão equipar os novos carros e que prometem elevar a categoria e o próprio automobilismo brasileiro a um patamar sem precedentes, como resultado de um projeto ambicioso liderado pelo Grupo Veloci, controlador da Vicar — promotora e organizadora da Stock Car —, e pela Audacetech, braço de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento da organização.
O maior de todos os pilotos que já competiram na categoria e, consequentemente, na “era Sedan”, é Ingo Hoffmann. O ‘Alemão’ conquistou nada menos que 12 títulos de campeão, 77 vitórias e 156 pódios ao longo de uma trajetória que durou entre 1979 e 2008. Neste período, Ingo pilotou carros de marcas como Chevrolet e Mitsubishi, modelos bastante distintos entre si e com uma natureza diversa em relação aos veículos atuais.
“As minhas grandes memórias são os Opalões, carros muito mais difíceis de pilotar em relação aos atuais porque eram dotados de câmbio manual. Fazíamos o ‘punta-taco’, técnica necessária quando se pilota carros com câmbio manual. Não tínhamos direção hidráulica, então precisávamos ‘bombar’ o pedal de freio com o pé esquerdo. Era uma pilotagem muito mais ‘raiz’”, explicou Ingo, que encara a transição como um “desenvolvimento natural da Stock Car”.
Primeiro campeão e um dos maiores nomes da história da Stock, Paulão Gomes já fala com saudades da geração de carros prestes a se despedir das pistas da categoria. “Boa parte das minhas corridas no automobilismo foi com veículos Sedan. Na Stock Car, por exemplo, foram cinco títulos, sendo os quatro brasileiros e um internacional, em Portugal, no Estoril, quando levei as duas provas do Grão-Pará. Foram momentos inesquecíveis e só posso sentir muitas saudades desse tipo de carro”, disse o tetracampeão.
Entre os pilotos em atividade na Pro Series, Ricardo Maurício é um dos mais vitoriosos. Dono de 37 triunfos, o tricampeão alcançou recentemente, em Goiânia, seu 92º pódio, que o fez assumir o segundo lugar em número de top-3 na história da competição. Ricardinho também analisa a descontinuidade dos carros sedans com nostalgia.
“Os sedans marcaram a história da indústria no Brasil e da própria Stock Car. Tenho várias grandes lembranças desse tempo que está acabando: fui campeão com três modelos diferentes, com Chevrolet e Peugeot, e andei de Mitsubishi, marca que estará de volta ano que vem. Foi um período super importante para a categoria e minha carreira”, destacou.
Aos 27 anos, Gaetano Di Mauro está no começo da sua caminhada na Stock Car. Recentemente, o paulista triunfou na corrida principal da etapa de Goiânia e, até a realização da etapa final de 2024, é o último piloto a ter vencido na categoria.
“Cheguei já no finalzinho dessa era, né? Vivi momentos inesquecíveis, como minha primeira vitória, a primeira pole… Esse ano tem sido incrível: já venci três vezes, sendo a última lá em Goiânia. Agora estou perto de encerrar essa era e pronto para representar a Eurofarma RC no ano que vem correndo com os SUVs”, ressaltou o atual competidor da Cavaleiro Sports.
Expectativa — Com a proximidade da revolução que vai abrir a temporada 2025 entre 3 e 4 de maio, fica a ansiedade sobre como será a dinâmica das corridas diante da futura geração de carros que está por vir. “Particularmente adorei a adoção dos SUVs. São carros que têm muito apelo para o público em geral e, particularmente, gosto muito desses veículos”, comentou Ingo.
Paulo Gomes também se mostrou empolgado com o futuro da Stock Car. “Espero que essa nova era SUV nos traga grandes disputas. Os carros da categoria toda serão fabricados pela mesma empresa, bem como os motores. Acho que isso vai trazer uma grande segurança para os pilotos, que vão poder mostrar novamente sua capacidade, agora com outro tipo de carro”.
O caráter vanguardista foi um dos fatores destacados por Ricardo Maurício para elogiar a revolução promovida pelo Grupo Veloci em curso para vigorar no ano que vem. “Inovar sempre é muito importante para a Stock Car e para o automobilismo de forma geral. Nós vemos nas ruas a ‘febre dos SUVs’, então acho que a população gosta bastante desse tipo de carro. Será uma grande transição, mas acho que será muito positivo para a Stock Car. Talvez no início as pessoas possam estranhar um pouco. Mas, certamente, esse é o caminho e o futuro da categoria”, elogiou.
Por fim, Gaetano Di Mauro enfatizou a importância de a Stock Car permanecer atualizada para poder renovar cada vez mais sua gama de fãs, atraindo o público jovem ao mesmo tempo em que mantém firme em suas bases quem acompanha e consome a categoria há muitos anos.
“O mundo todo tem seguido o caminho de trazer mais tecnologia ao carro, e não é diferente com a Stock Car. O modelo atual está um pouco defasado no aspecto tecnológico, então vamos conseguir estar mais próximo do fã com essa nova geração que está chegando. A possibilidade de ter câmeras onboard ao vivo e disponibilização do áudio dos rádios no novo aplicativo [Paddock Fan] ajuda muito o público a se aproximar do seu piloto preferido. Essa é a tendência global, e vamos conseguir fazer isso com toda a tecnologia embarcada nesta nova geração de carros. Será super interessante, e vejo a categoria caminhando no rumo certo, com passos que certamente farão muita diferença”, concluiu Di Mauro.
A história da “era Sedan” da Stock Car em números
Pilotos que já correram de Stock Car: 415
Corridas já disputadas: 632
Campeões: 19
Vencedores de corrida: 78
Circuitos: 21
Montadoras: 5 (Chevrolet, Mitsubishi, Volkswagen, Peugeot e Toyota)
Modelos diferentes: 11
Modelo, anos de participação, temporadas disputadas:
Chevrolet Opala, 1979 a 1993, 15 temporadas*, 15 títulos
Chevrolet Omega, 1994 a 1999, seis temporadas, seis títulos
Chevrolet Vectra, 2000 a 2003; e 2009 a 2011, sete temporadas, quatro títulos
Chevrolet Astra, 2004 a 2008, 5 temporadas, dois títulos
Mitsubishi Lancer, 2005 a 2008, 4 temporadas, dois títulos
Volkswagen Bora, 2006 e 2007, 2 temporadas
Peugeot 307 Sedan, 2007 a 2010, 4 temporadas, dois títulos
Peugeot 408 Sedan, 2011 a 2016, 6 temporadas, três títulos
Chevrolet Sonic, 2012 a 2015, 5 temporadas, três títulos
Chevrolet Cruze, 2016 a 2024, 9 temporadas, seis títulos
Toyota Corolla, 2020 a 2024, 5 temporadas, um título
*De 1987 a 1989, na versão Chevrolet Opala Caio-Hidroplas. De 1990 a 1993, versão Chevrolet Opala Protótipo.
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